FOI ASSIM QUE EU VI
FOI
ASSIM QUE EU VI
SAUDOSA
PENALVA
Foi assim que eu vi a ponte, com nome de passarela, era pra
ser um cartão postal. Obra prometida em campanha pelo prefeito da época,
ligando Trizidela à Penalva. Uma obra eleitoreira, considerada lesiva aos
cofres públicos. Poderia ter sido melhor e mais duradoura se não fosse o erro
de cálculo estrutural. A inviabilidade desta obra levou o prefeito a construir
uma barragem, sem levar em conta o impacto ambiental. Entre
outros danos, a barragem impediu a migração de peixes para a reprodução,
diminuiu o estoque pesqueiro e a produtividade do ambiente aquático;
transformou o ambiente de águas correntes em águas estagnadas, causando uma
profunda alteração das condições físicas, químicas e biológicas, o que provocou
a extinção de diversas espécies que viviam na área. Além disso, o rompimento da
barragem pode causar danos incalculáveis no entorno, prejudicando a população
que vive próxima à barragem e que já sofre com os efeitos da seca, assoreamento,
diminuição da pesca, odor fecal e proliferação de insetos. Uma obra sem licença
ambiental, aguardando a punição dos culpados e reparação do meio ambiente.
Foi assim que eu vi o velho casarão de esquina da Rua Celso
Magalhães com Getúlio Vargas, ali funcionou, até a década de 70, o comércio de
tecidos de Cândido Baía, a coletoria
federal e estadual, o hotel dos viajantes e ainda tinha um amplo salão de
festas. Era a vista panorâmica que tinha da janela do quarto que fui criado ao
lado dos meus irmãos. Se ele falasse contaria a história do local mais amado da
cidade.
Foi
assim que eu vi o velho Mercado Central,
situado no cruzamento das ruas Getúlio Vargas com Djalma Marques. Foi
construído num plano alto, ladeado por ampla escadaria. Um belo lugar
arborizado com flamboaiãs. Esse mercado era um lugar de referência na cidade, a
sua parte interna era servida por balcões escantilhados para venda de carne
bovina e suína. Ainda tinha bancas com frutas, verduras e legumes. Lembro-me,
com gostosa saudade, dos açougueiros: Zé Bode, Mazico, Raimundo Matos, João
Pacheco e Edson Surdo. A parte externa, com escadarias laterais, além de via de
acesso, servia de assentos, em filas sucessivas, para dar melhor visibilidade a
eventos cívicos, alegóricos e carnavalescos. Era ali o melhor local para ser
apreciado o encontro dos blocos carnavalescos: Pau D’Agua, Mangueira, Vocalista
Tropical e Boêmio do Samba, os mais antigos. Animados, também, naquele
aprazível local, era dar ouvidos ao som noturno de Nelson Gonçalves, no Bar do
Ernane, e ao baião de Luís Gonzaga vindo da radiola de Jorge Pinheiro, logo em
frente.
Foi assim que eu vi o Engenho
de Sansapé, foi lá que meus olhos se abriram para a vida. Era dia de moagem
da cana e de cana todo o picadeiro se enchia. Esse engenho foi uma inovação
para a época; fabricação inglesa, com força hidráulica, sistema moto-contínuo,
a vapor, e pela pressão de duas caldeiras botava toda aquela máquina em
movimento. Esse engenho foi a base da economia de Penalva, com início na fase
imperial, quando ainda era distrito da freguesia de Viana. Esteve o tempo todo
dedicado à produção de açúcar, mel e cachaça. Atingiu o ápice da sua produção
na época da segunda guerra, suprindo a falta destes produtos na capital. A casa grande era de alvenaria de pedra e
tijolos, cobertura com telhas de barro, abrigando todas as instalações
destinadas ao beneficiamento da cana-de-açúcar. Começava pela residência do
proprietário, dormitório de operários, depósitos, prolongando-se com fornalha,
casa das máquinas, picadeiro, chaminés, assentamento, casa de purgar,
alambique, burro de vapor e poços cacimbão para abastecimento, encanado, das
caldeiras. A cachaça produzida no Engenho Sansapé, muito apreciada pelos
consumidores, tinha o nome, em seu rótulo, de Sem Rival, mas por Sansapé todos
bebiam. Foi o Engenho de Sansapé que fez a economia da Vila de Penalva
prosperar.
A Fazenda Sansapé mantém a tradição buscando reconhecimento
do passado através da narração de fatos lembrados por este filho, contador de
histórias. Agora, tenho saudades do Engenho, saudade do clima aconchegante do
campo, do cheiro da cana às peculiaridades de uma fazenda rural. O melhor da
fazenda sempre foi sentir a simplicidade da natureza e o equilíbrio que ela me
proporciona. Isto sim é qualidade de vida. Muitas graças ao meu pai e minha
mãe. Nossa Senhora de Sansapé, para me dá proteção, fez daqui o seu altar.
Obrigado meu DEUS!!!...
Foi assim que eu vi o Cine Trianon, casa de cinema do senhor Benedito Leite, era uma grande montagem que se destinava ao entretenimento, ali eram exibidos filmes de Hollywood, como Tarzan, com sua Jane, o filho Boy e a macaca Chita. Além de séries do faroeste americano, aventuras, épicos e comédias. E mais sob administração de Raimundo Leite, ajudado por Luis Messias e suas irmãs, promoviam-se, naquela casa de eventos, shows de calouros e interpretações teatrais.
Foi
assim que eu vi Martinho Jacinto Castelo
Branco, meu avô, patriarca da família Castelo Branco e que viveu em Penalva
durante a posse do Engenho Sansapé. Fez do Engenho uma usina para entrar na
história. Foi na posse dele que a fazenda teve a maior importância econômica,
social e política, com enlevo durante a segunda guerra mundial, momento que
superou as dificuldades da época, produzindo mais e contribuindo para o
abastecimento de açúcar na capital.
A
história de vida de Martinho Castelo se confunde e se funde com a expansão
dessa ilustre família neste Estado. É, também, uma história de luta de um homem
que soube levar a sério o trabalho e ainda teve tempo para ser pai por mais de
cinquenta vezes.
Ao
prestar-lhe esta homenagem, como seu neto, encontro nestas linhas palavras de
orgulho.
Louvável a iniciativa do ilustre filho desta terra, o Sr Ivaldo Castelo Branco, em rememorar lembranças da sua vida que se confundem com a própria história de Penalva, memórias essas que contribuem para nós conhecermos melhor nossa cidade, e ele continua fazendo história, compartilhando com as gerações mais novas que não conheceram muitos monumentos e não tinham ciência de muitos fatos históricos da nossa Penalva.
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