ENGENHO DE SANSAPÉ

ENGENHO DE SANSAPÉ

 

A Companhia Geral do Comércio do Maranhão, foi uma empresa criada pela coroa portuguesa para fomentar o crescimento da província. Tinha, inicialmente, como um dos objetivos, importar escravos africanos para trabalharem na lavoura da cana para produção de açúcar. A esta época, a economia do Império era voltada para a exportação de matérias-primas, exceto o açúcar que era um derivado industrial já transformado da cana-de-açúcar. Em seguida, esta empresa, importou da Inglaterra, uma unidade produtiva, representada por um Engenho Central, em meados do século XIX, destinada à recém criada, Freguesia de São José de Penalva, na baixada maranhense. Foi por força da Lei nº.510, de 27 de julho de 1858, assinada pelo vice-governador da província, João Pedro Dias Vieira, atendendo determinação do Governo Imperial, na regência de D. Pedro II, criou a referida freguesia e autorizou os jesuítas a montarem o Engenho de Sansapé, no distrito da freguesia de São José de Penalva, subordinada à freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Viana. Como feitor e capataz, foi encarregado da montagem do maquinário, o português e funcionário régio, José Mariano da Cunha Magalhães, conhecido, no engenho, como Bráulio Magalhães, acompanhado dos jesuítas, colonos e escravos, vindos de Guiné, na África. 

O Engenho de Sansapé, vindo da cidade de Liverpool, na Inglaterra, para mecanizar a produção de açúcar, era da modalidade Central, com propulsão a vapor de água, em ebulição. Era equipado com uma turbina para triturar açúcar, duas caldeiras, caixa d'água de 10.000 litros, e um completo sistema hidráulico, com  bombeamento de um burro de vapor capaz de alimentar todo o sistema, com água encanada. As paredes do casario eram de alvenaria de pedras e tijolos maciços e o telhado construído em telhas de barro, sustentado por grossas madeiras de âmago, serradas, dividido em 5 lances, acompanhando o declive do terreno. Essa estrutura abrigava a casa grande de morada, alojamento para trabalhadores, farmácia, maquinário, caldeiras, moendas, turbina, picadeiro, assentamento para purgar o açúcar, fornalhas, alambique e burro de vapor. Em sua parte externa haviam dois poços profundos, com fartura de água e duas chaminés de 15 metros, cada, e ainda um amplo espaço para a bagaceira e uma pequena solta para o gado que servia os carros de boi. Havia, também, sobre as caldeiras um apito que lembra muito a minha infância. Cresci ouvindo o apito da usina, no alvorecer do dia. A lembrança do som estridente desse apito me acompanha até hoje. Um tempo que servia de norte para trabalhadores e demais pessoas da região. Se antes, por muitas vezes, reclamava de seu estrilo ardido, hoje, esse som, soa como melodia nos meus ouvidos, ele me transporta para um tempo, distante, guardado com muito carinho no coração e na memória. 

Toda essa estrutura funcionava como  um mecanismo para mover as moendas e moer a cana, no início do preparo do açúcar. A primeira etapa para produção era o beneficiamento da cana, após ser espremida pelas moendas, o caldo era aquecido em grandes tachos de cobre e ferro, para fazer aguardente, mel e o açúcar, este, após escorrido em vasilhas cônicas, até o ponto final. Em seguida o açúcar, após a sua secagem, era destinado, na sua forma bruta, para o mercado interno e após ser triturado em turbina própria, era ensacado e exportado para a Europa.

Como unidade produtiva, este engenho foi inaugurado na década de 1.850. É um exemplar açucareiro do século XIX, testemunha de um ciclo histórico na evolução da freguesia de São José de Penalva e foi edificado no auge da produção açucareira maranhense. Teve um papel central na colonização, ocupação e povoamento do distrito da freguesia e adjacência. Tamanha era sua importância econômica, na região, que no dia 02 de julho de 1864, Lei nº.706, assinada pelo desembargador Miguel Joaquim Aires do Nascimento, vice presidente da Província do Maranhão, atendendo proposta da Assembleia, desmembrou o Engenho de Sansapé, desta freguesia e anexou-o à freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Viana, porque este à época, já possuía turbina para fabricação de açúcar triturado. Sete anos depois, Lei nº.955 de 21 de junho de 1871, assinada pelo vice-presidente da província, José da Silva Maia, a freguesia de São José de Penalva, foi elevada à categoria de vila. Nesta oportunidade o Engenho de Sansapé foi desanexado da freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Viana, retornando à administração da freguesia de São José de Penalva, porque esta passou a ter administração própria.

A modernização da produção açucareira era um dos incentivos da política imperial, estabelecendo juros baixos às pessoas, físicas ou jurídicas, que se propusessem a importar engenhos centrais para a produção de açúcar, inclusive, com a isenção de impostos sobre a importação. Incentivos estes destinados, principalmente a colonos, plantadores de cana, com preferência na aquisição de terras públicas, que ajudassem na colonização e povoamento da província.

Segundo Jerônimo de Viveiros, em seu livro História do Comércio do Maranhão, o Governo Imperial, pela Lei nº.2.687, de 6 de novembro de 1.875 e do Decreto 8.357 de 24 de dezembro de 1.881, proporcionou grandes incentivos à lavoura canavieira, subsidiando a aquisição de Engenhos Centrais, para modernizar a produção de açúcar. Aproveitando o ensejo, por determinação do governo da província, Decreto-Lei nº.7.811 de 31 de agosto de 1.880, foi autorizada a construção do Engenho Central de São Pedro de Alcântara, em Pindaré-Mirim, inaugurado em 1.884, nessa ocasião, por determinação do governo da província e a interessada influência dos proprietários, daquele  engenho, a turbina de triturar açúcar, instalada no Engenho de Sansapé, foi removida, pelos escravos, para o Engenho de Pindaré; revoltados, com esta decisão e o esforço empregado sobre a balsa, pelo peso da turbina e a má vontade dos escravos, esta não chegou ao destino. O engenho de São Pedro, em Pindaré, teve vida curta, regido por má administração, sucumbiu em 1.913.

Convém lembrarmos momentos importantes na produção de açúcar, após o governo imperial, já na era republicana, entre outros, destacaram-se o Engenho de Sansapé e a Usina Joaquim Antônio, em Guimarães. Estes engenhos prestaram relevantes serviços durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), embora tenha sido uma guerra europeia, serviu para aumentar a produção açucareira do Brasil, com reflexos no Maranhão, nestas usinas. Mas foi durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), conflito global, onde a produção de açúcar mascavo, nestes engenhos, aumentou, face ao bloqueio dos portos marítimos no Brasil, que deixou a capital, São Luís, sem abastecimento deste produto. Destaca-se, neste momento, a participação do meu avô, Martinho Jacinto Castelo Branco, como administrador do Engenho de Sansapé; notabilizou-se como senhor de engenho, com larga experiência no ramo canavieiro, teve ajuda da força escrava, remanescente, mesmo livre, continuou trabalhando, assalariado, neste engenho. O Engenho de Guimarães(Usina Joaquim Antônio), encerrou suas atividades em 1.962 e a Usina do Engenho de Sansapé, em 1.968.

Com a evolução da agroindústria e o aparecimento das usinas de açúcar e álcool, os engenhos se tornaram obsoletos, entrando em decadência e foram sendo desativados gradativamente.


Pesquisas:

1 - Cesar Augusto Marques - Dicionário histórico e geográfico da província  do Maranhão.

2 -  Jerônimo de Viveiros - História do comércio do Maranhão.

3 -  Carlos Alberto de Sá Barros - Elementos para a reconstituição histórica de Penalva.

4 - Sansapé Terra Mãe.

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